Entre,sinta-se à vontade. Não repare as estranhezas,as belezas...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sobre o Consumismo

No ponto de ônibus, se aproximou da garota, um rapaz. O rapaz, envolto em roupas desgastadas, se dirigiu a ela sorrindo e com um olhar que ela odiava receber, um olhar inseguro, rebaixado hierarquicamente. Lhe perguntou se sobraria alguns trocados, se poderia doá-los, e assim, ele poderia pegar o ônibus de volta a sua casa. A garota o fez.
Sentada no banco mais alto do ônibus, a garota teve outra surpresa. O mesmo rapaz se acomodou a seu lado, agora com um sorriso mais seguro, revelando a ausência de alguns dentes. Timidamente introduziu uma conversa, até que ganhara mais confiança e passara a lhe contar sobre seus irmãos, seu trabalho de entregador de panfletos, e sobre sua namorada. Foram longas falas sobre ela, mostrou à garota o tênis que usava, um nike, modelo último. Contou-lhe sobre a dívida que se metere por causa dele, pois queria impressionar a namorada.
A garota precisou descer, para seguir a seu compromisso. Já na escola, ficou sabendo que acompanharia uma reunião com um aluno e sua mãe. A mãe fora reclamar sobre não estar mais recebendo o auxilio bolsa família, e a escola lhe respondia que nada poderia ser feito, visto que um dos requisitos para o recebimento deste, é a presença do aluno na escola, o que não vinha acontecendo. Pediram ao garoto ali presente, sua explicação. Ele disse a todos que parou de frequentar as aulas para passar mais tempo trabalhando, e assim, conseguir comprar um vídeo game, aquele que passava nos comercias de TV, o que todos os seus amigos tinham...
No fim da tarde, por gostar de caminhar, a garota acabou voltando assim para casa. No caminho, visualizou uma dessas casas bem humildes, com um muro caído, poucos cômodos e muitas pessoas. Percebeu pela porta aberta, uma televisão de plasma.
Pois é, a fez lembrar sobre a lógica do mercado consumidor, mesmo sem adentrar a fundo sobre as origens e explicações do sistema, pensou na ideia do consumismo atingindo as camadas mais baixas, em que você percebe as restritas condições de vida, decoradas pelos importados produtos esbanjados nas camadas altas. O mercado consumista se inflama com a ideia de tempo, ou a falta dele, devido as longas jornadas de trabalho. As pessoas não mais se encontram nos seus espaços de trabalho, a tecnologia que poderia diminuir essas horas, faz o contrário. A tecnologia ainda contribui para o menor encontro das pessoas nos momentos de lazer, as isolando, pois a diversão é oriunda propriamente dos reconfortantes meios tecnológicos. Meios este coloridos, atraentes colocando a todos numa mesma ideia consumista; meios inibidores do pensamento. O pensamento nunca fora mesmo visto como uma coisa boa, e mesmo com suas limitações e atrelamentos às lógicas moldadas no social, representa se assumir como algo além de um verbo, inimigo do conformismo absoluto. Pensou sobre a lógica do mercado consumidor sempre facilitando, deixando todos à vontade, enquanto as ideias contrárias se perdem em fragmentações, em incertezas e acabam aparentando agressão.
A garota riu ironicamente. É, se percebe que o mercado privilegia tudo, acaba com o tabu do sexo, transforma em mercadoria o material dos opositores. E, quando você pensa que ele só não age sobre a morte, o Michael Jackson morre, e os resultados vem te mostrar que está errado.

domingo, 5 de julho de 2009

Ideia...

Se eu tivesse alguma ideia sobre o que escrever, tentaria descrever os dias, as metáforas, os intimos e aflorados desejos e as imediatas necessidades.
Se eu tivesse alguma ideia, tentaria pô-la em prática, buscaria compreender se ela é subjetiva ou a dois ou ainda se é geral, se todos compreendem a falta de coerência moldada no decorrer da história, e mesmo com todos os infindáveis mistérios entre o céu e a terra, muito além do conhecimento da nossa filosofia, a percepção do espaço material como plausível de transformação, pois não é mágica, e sim trabalho.
Se tivesse alguma ideia, tentaria explicar que quanto mais tempo se passa do lado de dentro, mais se esquece como é lá fora.
Caso houvesse alguma ideia do significado dos sonhos, eu os valorizaria mais, tomaria mais cuidado com as limitações impostas a eles pelas circunstâncias, ou apenas os interpretaria de maneira distinta, para me revigorar em possibilidades.
Se tivesse alguma ideia sobre ser atriz, poderia criar inúmeros personagens em um mar de vivências de verdades e mentiras, sempre com tamanha intensidade.
Sem ideias sobre algo que me permitisse não sentir saudade, não consigo pará-las. Me perco em saudades infinitas, entre nostalgia e aquilo que ainda não vi, me perco em saudades exatas capazes de transformar o gosto em algo real. Se tivesse ideia da validade dos pensamentos, o controle das lembranças, esqueceria que da própria ideia caiu o acento.
Se eu tivesse alguma ideia sobre como falar dos sentimentos, de uma maneira que fossem ouvidos, diminuiria a função dos olhares e as buscas por reciprocidade. Se tivesse ideia sobre o que falar, talvez começasse pelo cotidiano, talvez dissesse mais bons dias, talvez chamasse você para um passeio de mãos dadas, talvez pararíamos almejando um café expresso, e seguiríamos forte.
Se eu tivesse alguma ideia de onde tudo vai terminar, acabaria de uma forma simples e agradável.