Entre,sinta-se à vontade. Não repare as estranhezas,as belezas...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O Aventureiro e o Historiador

Na imagem, o aventureiro adentrou ao nobre salão, pelo corredor havia tido admiração aos cavaleiros que em suas brilhantes armaduras de ferro, cuidavam dos cavalos por almejarem dar a eles também o brilho, além da aparência de força, e assim intimidar os guerreiros inimigos. O aventureiro se viu nestas missões, mas não, não poderia. Sua paixão era o mar, e por este se encontrava ali. Já no salão nobre, se esforçava para visualizar o rei em sua caminhada de entrada. É difícil imaginar um rei, é o ápice da hierarquia, das regalias, aumentando assim, a ansiedade do aventureiro.

Na imagem, o cavaleiro teria apenas um breve relance da figura do rei a sua proximidade, uma figura alta e robusta, no requisite da graça, decepcionante, afinal, toda nobreza de um rei já se constitui em seu sangue, não precisando cultivar a sua aparência.
O aventureiro teria de se recompor logo o monarca se acomodara em sua poltrona, deixando à mostra apenas sua túnica vermelha.

O monarca espanhol disponibilizara um tempo curto ao aventureiro, para poucas palavras, muito ensaiadas por este, quiçá durante toda a sua existência. Por vezes, se denota a impressão das pessoas darem mais atenção a uma pose criada, a condução de um papel, e não ao real.
O aventureiro genovês não poderia falhar, se preparou exatamente para convencer o monarca espanhol sobre os triunfos que traria a ele, a possibilidade de vantagens sobre o monarca rival, o português.


Ainda na imagem, o genovês teria sido impecável. Através de sua visão do mundo como uma esfera, sua orientação seria circunavegar o oceano Atlântico para poder passar ao Indico, abrindo assim, um novo caminho as Índias. Na imagem, o rei teria se mostrado confuso, pois detinha inúmeras questões políticas em sua mente. A rainha teria adentrado a sala no meio do monólogo do aventureiro, se encantando pela pose confiante deste, e destinado o papel de convencer seu esposo a aceitar o pedido daquele pobre rapaz. Pobre porém valioso, afinal detinha razão pelo plano determinado e coragem, um ato desejado pela rainha, por muitos, pois assim ela poderia se atirar naqueles braços que tanto a encantaram. Naquela imagem, ela teria contribuído dentro de suas possibilidades de opinião na história, que não era nada favorável as mulheres.


As imagens seguintes mostrariam um triunfo conquistado. Não propriamente o planejado, mas o aventureiro teria enviado uma carta ao rei, anunciando a chegada a terra.
Terra misteriosa, logo constatada como nova, anunciada como um novo mundo, como a descoberta da América.

É evidente a força do imaginário, mas não se pode não colocá-lo na balança com o fato empírico. É claro que o peso maior na balança não é generalizado. Sim, alguns decidem pelo imaginário, mas talvez o resultante decorra pela visão dos homens serem inerentes à sua semelhança, aos alcances de seu meio.

Mas, todas estas visualizações foram perdidas a partir das análises de inúmeros livros e documentos do Historiador. Rapidamente, o belo cenário foi destruído.
O Historiador analisava a ideia da “Invenção da América”, e não seu descobrimento, como é aceito e representado como Dogma historiográfico. O Historiador objetiva a visão de uma história ontológica, isto é um processo produtor de entidades históricas e não a existência inerente destas.
O Historiador aborda a possibilidade da viagem de 1492 ser a priori concebida como uma “empresa de descobrimento”. Em suas pesquisas, leu autores que alegavam a existência de uma lenda do piloto anônimo, um sujeito consciênte da existência da América, e que teria entregado a Colombo o mapa com as certas coordenadas para que este pudesse confirmar. Mas como sabemos na história, muitos autores vão a defesa de Colombo, por vezes negando a existência deste piloto, em outras colocando o famoso conquistador no lugar deste, e ainda em outras, autores que conferem o descobrimento como um propósito divino, ou seja, Colombo seria apenas um mero agente.
O Historiador gosta do conceito de seu companheiro de profissão, O´Gorman que ignora a possibilidade de um ato não ser provido de intenção. O’Gorman ainda reduz ao absurdo todas as análises vistas, por chegarem ao limite de suas possibilidades lógicas, sendo que a América tem um processo peculiar, e portanto, levando diretamente toda a história latina e anglo saxônica a uma nova significação, a de ter sido inventada.
Para o aventureiro, a América poderia ser apenas uma possibilidade qualquer de novo mundo, constatado nas lendas medievais. Os motivos que levariam os reis católicos a apóia-lo se referem a rivalidade com Portugal, de aparecer de maneira explicita uma declaração do domínio espanhol sob o oceano. O Historiador observa que Colombo não conseguiu perceber o novo mundo, quando pisou nele, pois postulou sua hipótese numa espécie de crença, fé que eram as Índias. Já os reis espanhóis apenas buscavam um novo espaço para explorar, e encarregaram então, a outro aventureiro a missão de entendimento daquele novo espaço. Américo Vespúcio logo denominaria a terra como a quarta parte do planeta, um novo “continente” que receberia seu nome. A Invenção da América representa um complexo processo ideológico. Os habitantes do novo mundo, foram definidos como humanos, ao contrário do que diziam as lendas medievais, afinal, se colocaria em risco a visão cristã da unicidade fundamental do gênero humano, entretanto, os novos habitantes teriam de ser denominados como inferiores espiritualmente, para assim justificar a missão européia de civilizá-los. A Invenção da América representa então, processos políticos, sócioeconômico da atuação da Europa neste espaço.


O Historiador, humano oscilante, ainda pensava nas imagens que costruira. Detém medo que cometa erros desse tipo, em outros conceitos, mesmo que inconscientemente. Ele tem dúvidas sobre ser totalmente positivo não alimentar o imaginário, os ideias, as utopias. Pensa se comete erros assim quando ainda acredita nos seres humanos, em mudanças históricas.
Mas, como se pudesse afastar esses pensamentos através de um tapa, limpa o ar em sua volta, não queria pensar naquilo no momento, afinal, estava atrasado para um compromisso com sua militância, afinal, aquelas crianças a qual trabalhava o esperavam, com sua cesta de alimentos, com suas palavras reconfortantes.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O abajur

Era um abajur comprido, em formato moldado a semelhança de uma garrafa dessas de bebidas caras, com o corpo mais fino e um largo achatamento na base. Seu topo, sua identidade, era de um amarelo vivido conseguindo destaque mesmo cobrindo uma lâmpada. Um amarelo vivido em contraste com um quarto de paredes rosa, objetos diversos, em sua maioria sem sentidos, e uma dona formosa, no entanto comum.
O abajur estava ali ha tempos. Fora dado a Moça por uma tia, talvez com uma boa intenção, não se sabe ao certo. Mas a Moça apenas o recebera na qualidade de objeto. Nem sequer se importou com suas formas, gostava mesmo é de quantidade, colecionava adornos, talvez colecionasse momentos, embora refletisse quase nada sobre eles.
Na primeira vez que o abajur falou, o adorno ao lado, o relógio, anunciava duas badaladas da madrugada. Sua tentativa era de estabelecer algum tipo de comunicação, uma espécie de “alo” seguida de um apelo de nota a sua existência. A Moça estava em um sono incerto, aqueles transes em que não se sabe ao certo se está dormindo ou acordado. Ela se movia de um lado a outro, não conseguia ajeitar-se em conforto, descobria e cobria determinadas partes do corpo. Pois quando o frio e a irritação normal da insônia deram a vitória pra consciência, o tagarelar do abajur já era forte e fora por ela ouvido. Mas então, foi a vez da Moça trapacear, iludindo a si sobre o absurdo do acontecido. Quando-se ignora tudo, fica fácil dormir.
Intrigado, o abajur aquietou-se. Mas acabou tomando por decisão, não esperar tanto tempo para estabelecer o próximo passo, já que vivera da mesma forma por três longos anos a espera de conseguir tomar uma atitude. Logo no dia seguinte se pois a prosear. A Moça até se assustou, mas acreditou ser um sonho, levantou tomou um chá e voltou a dormir. O incidente acabou sendo um bom motivo para o uso de calmantes e com eles, iniciar uma nova coleção.
E por meses, se manteve a cena. O abajur a tagarelar e a Moça com sonhos interpretar. O abajur ria das explicações da Moça às amigas que aquele quarto visitava. No começo a história era simples, ela dizia sonhar com um abajur falante. Com o tempo as pessoas perdiam o interesse na história, e mesmo ela, afinal repetir sempre a mesma coisa se torna fatigante. Ai vem as mudanças simples, se fossem longas requereriam pensamentos, planejamento e não se pode esquecer da presença do medo.
A Moça passou a enfeitar a história. Os sonhos com o abajur soavam emocionante, de homens a mármore, na dualidade de fadas à bruxas. Mas o que mais fazia o abajur rir, era a afirmação dela alegando ter procurado especialistas e saber como resultado de se sonhar com abajures um significado de riqueza.

E o abajur falava e falava. Até cantava. E com o tempo, fora facilmente despercebido, por se visualizar inúmeras vezes o mesmo ambiente, tornou algo normal. Agora mesmo que falasse durante o dia, nada acontecia. O abajur foi se especializando na arte das palavras, apreendidas com a observação. Visualizou ali infinitas coisas, mesmo que em sua maioria se exibissem numa ideia de constante repetição, captava o que nem a Moça tecia tempo ou mesmo vontade de ver, as entrelinhas.
É, tudo o que cabia ao abajur, era brincar com as palavras, uma espécie de caça ao tesouro da compreensão. E, como escreveu Tolstoi, ou como assinaria em concordância o abajur, se soubesse exercer a atividade da escrita, o posto da literatura, das palavras como um subproduto da infelicidade, sugerindo que os infelizes inventam diferentes estilos de sofrer, cada um a sua maneira, enquanto os não infelizes se limitam a viver num estado de plenitude, a salvo de contradições.
No quarto, a atividade mais constante, além do sono, da televisão, da presença das amigas e dos familiares, era o sexo. O abajur gosta de contar da vez em que ali dormira um rapaz amigo da Moça. Os personagens iam assistir um filme, e o faziam até o rapaz apertar o abraço na Moça, mordendo-lhe suas orelhas. O abajur descreveria aquilo como um grande arrepio, e contara a tentativa de hesitação da Moça. Mas o amigo insistira, beijando suavemente o pescoço dela, dando a uma mão a função de força, provocação as curvas da Moça, e a outra o papel da leveza.
E as mãos seguiam em suas funções até que a moça com gosto se virou deixando seu corpo de frente ao do rapaz, em um ato simultâneo a um delicioso beijo, descreveria o abajur. O abajur ainda falaria sobre o constrangimento dos amigos no dia seguinte. Notaria pois ser algo difícil de ocorrer. Via cenas incríveis por ali, brincadeiras e tatos enlouquecedores, mas se irritava com a constante mudança de personagens. Odiava quando percebia algum fingimento, ou quando não havia troca de olhares.
Se perguntava, se a Moça se lembraria de um amante antigo, um que era mais constante. Um que a fazia rir a toa, que trazia bombons. Um que se dividia com ela. Desses importantes, que se quer tanto e na primeira vez acaba tendo nervosismo, mas que no final é surpreendente. Surpreendente até se tornar paralizante, devido a dor que o rompimento causa. O abajur gostava de lembrar dele. Já a Moça, talvez não.

Não se sabe se o abajur gostava da Moça, ao passo que se sabe o contrário, que a Moça não ligava para o abajur. O abajur não deveria saber muito sobre ele mesmo. Sabia sobre suas reações, seus pensamentos, mas eram todos as custas da vivência da Moça, ou do ódio que tecia aos objetos que cada vez mais ela embutia ali. Ódio por eles não falarem, ódio pelas dificuldades de não saber lidar com as diferenças, e sobretudo ódio pelas expectativas que nunca deixavam de surgir quando algo novo aparecia por ali, e que sempre terminavam da mesma forma.
Não é que o abajur soubesse muito sobre sentimentos, sobre certezas. Mas se tem uma coisa a qual o abajur achava mais triste do que a rotina, era a solidão.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sobre o Consumismo

No ponto de ônibus, se aproximou da garota, um rapaz. O rapaz, envolto em roupas desgastadas, se dirigiu a ela sorrindo e com um olhar que ela odiava receber, um olhar inseguro, rebaixado hierarquicamente. Lhe perguntou se sobraria alguns trocados, se poderia doá-los, e assim, ele poderia pegar o ônibus de volta a sua casa. A garota o fez.
Sentada no banco mais alto do ônibus, a garota teve outra surpresa. O mesmo rapaz se acomodou a seu lado, agora com um sorriso mais seguro, revelando a ausência de alguns dentes. Timidamente introduziu uma conversa, até que ganhara mais confiança e passara a lhe contar sobre seus irmãos, seu trabalho de entregador de panfletos, e sobre sua namorada. Foram longas falas sobre ela, mostrou à garota o tênis que usava, um nike, modelo último. Contou-lhe sobre a dívida que se metere por causa dele, pois queria impressionar a namorada.
A garota precisou descer, para seguir a seu compromisso. Já na escola, ficou sabendo que acompanharia uma reunião com um aluno e sua mãe. A mãe fora reclamar sobre não estar mais recebendo o auxilio bolsa família, e a escola lhe respondia que nada poderia ser feito, visto que um dos requisitos para o recebimento deste, é a presença do aluno na escola, o que não vinha acontecendo. Pediram ao garoto ali presente, sua explicação. Ele disse a todos que parou de frequentar as aulas para passar mais tempo trabalhando, e assim, conseguir comprar um vídeo game, aquele que passava nos comercias de TV, o que todos os seus amigos tinham...
No fim da tarde, por gostar de caminhar, a garota acabou voltando assim para casa. No caminho, visualizou uma dessas casas bem humildes, com um muro caído, poucos cômodos e muitas pessoas. Percebeu pela porta aberta, uma televisão de plasma.
Pois é, a fez lembrar sobre a lógica do mercado consumidor, mesmo sem adentrar a fundo sobre as origens e explicações do sistema, pensou na ideia do consumismo atingindo as camadas mais baixas, em que você percebe as restritas condições de vida, decoradas pelos importados produtos esbanjados nas camadas altas. O mercado consumista se inflama com a ideia de tempo, ou a falta dele, devido as longas jornadas de trabalho. As pessoas não mais se encontram nos seus espaços de trabalho, a tecnologia que poderia diminuir essas horas, faz o contrário. A tecnologia ainda contribui para o menor encontro das pessoas nos momentos de lazer, as isolando, pois a diversão é oriunda propriamente dos reconfortantes meios tecnológicos. Meios este coloridos, atraentes colocando a todos numa mesma ideia consumista; meios inibidores do pensamento. O pensamento nunca fora mesmo visto como uma coisa boa, e mesmo com suas limitações e atrelamentos às lógicas moldadas no social, representa se assumir como algo além de um verbo, inimigo do conformismo absoluto. Pensou sobre a lógica do mercado consumidor sempre facilitando, deixando todos à vontade, enquanto as ideias contrárias se perdem em fragmentações, em incertezas e acabam aparentando agressão.
A garota riu ironicamente. É, se percebe que o mercado privilegia tudo, acaba com o tabu do sexo, transforma em mercadoria o material dos opositores. E, quando você pensa que ele só não age sobre a morte, o Michael Jackson morre, e os resultados vem te mostrar que está errado.

domingo, 5 de julho de 2009

Ideia...

Se eu tivesse alguma ideia sobre o que escrever, tentaria descrever os dias, as metáforas, os intimos e aflorados desejos e as imediatas necessidades.
Se eu tivesse alguma ideia, tentaria pô-la em prática, buscaria compreender se ela é subjetiva ou a dois ou ainda se é geral, se todos compreendem a falta de coerência moldada no decorrer da história, e mesmo com todos os infindáveis mistérios entre o céu e a terra, muito além do conhecimento da nossa filosofia, a percepção do espaço material como plausível de transformação, pois não é mágica, e sim trabalho.
Se tivesse alguma ideia, tentaria explicar que quanto mais tempo se passa do lado de dentro, mais se esquece como é lá fora.
Caso houvesse alguma ideia do significado dos sonhos, eu os valorizaria mais, tomaria mais cuidado com as limitações impostas a eles pelas circunstâncias, ou apenas os interpretaria de maneira distinta, para me revigorar em possibilidades.
Se tivesse alguma ideia sobre ser atriz, poderia criar inúmeros personagens em um mar de vivências de verdades e mentiras, sempre com tamanha intensidade.
Sem ideias sobre algo que me permitisse não sentir saudade, não consigo pará-las. Me perco em saudades infinitas, entre nostalgia e aquilo que ainda não vi, me perco em saudades exatas capazes de transformar o gosto em algo real. Se tivesse ideia da validade dos pensamentos, o controle das lembranças, esqueceria que da própria ideia caiu o acento.
Se eu tivesse alguma ideia sobre como falar dos sentimentos, de uma maneira que fossem ouvidos, diminuiria a função dos olhares e as buscas por reciprocidade. Se tivesse ideia sobre o que falar, talvez começasse pelo cotidiano, talvez dissesse mais bons dias, talvez chamasse você para um passeio de mãos dadas, talvez pararíamos almejando um café expresso, e seguiríamos forte.
Se eu tivesse alguma ideia de onde tudo vai terminar, acabaria de uma forma simples e agradável.

sábado, 9 de maio de 2009

Agradável Noite.

Era final de festa. Naquele momento, por volta das sete da manhã, o ambiente representava mais uma pequena reunião de bons amigos.
Os amigos acabaram por decidir fechar as cortinas; uma forma de truque para disfarçar a claridade surgida, persistente em aumentar, não assustando e espantando assim, os corajosos que mesmo em meio ao sono não queriam abandonar a prosa envolvente para caminhar e constituir o dia sugerido.
No momento, a agitação se dava por dividirem suas visões sobre o rock; alguns achavam maior a importância do Elvis Presley, outros dos Beatles...E as opiniões se convergiam e se divergiam, e puxavam outras questões, e perguntava-se sobre o Blues, sobre a contribuição de Frank Zappa...
As falas se multiplicavam e por vezes ocorriam simultaneamente até que todos perceberam ser uma boa hora para trocar a música no rádio. E o que viria? Tantas já haviam sido as músicas roladas pela noite, como decidir a quem mais agradar naquela hora?
Alguns gritavam por Blues. Outros pediriam Jazz. E ainda havia quem insistisse no Punk.
Uma garota presente, observava e via graça nas disputas. Parece sempre haver dificuldade em situações envolvendo mais de um lado. Seria mais simples se na vida houvesse um juiz? Ou algo como a verdade sendo única?...Não, acreditara que não.
A garota decidira minimizar a polêmica. Voltou-se para os amigos e perguntou se estes sabiam sobre um antigo desenho novamente sendo transmitido na televisão:
- O que? Está Passando Duck Tales? Quando? Onde?...Fora a resposta.
Os amigos se empolgaram e se percebia a alegria ao cantarem “Duck Tales,(uhu) são os caçadores de aventuras (uhu)...Todos eles são grandes figuras (uhu)”...
E naquele momento, todos os presentes lembraram de sua infância. Era quase visível a nostalgia. Nostalgia essa, por vezes portadora de reconforto, de saudade e que por vezes até fere.
E, os historiadores, em maioria ali presentes, acabaram por compartilhar a sua própria história.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

A Criatura

No corredor do hospital, o que comumente se entende por amorfo e relativo, passa a adquirir formas, tamanha a exuberância dos sentimentos ali embutidos. Os sentimentos dos indivíduos ali hospedados, se acumulando ao longo de inúmeras gerações, move lentamente os braços que agora possui. Se movendo por um árduo rastejar, até que as dores sejam exorbitantes, e se decorra por completa a transformação.
A Criatura, se levanta, exibindo suas novas conquistas, de iniciar um caminhar acompanhado de uma expectativa, cuja falta do componente na formula impede a denominação de felicidade. Evidentemente, não é visível aos olhares humanos. Mas, como muitas coisas que não são tangívéis, afeta os homens.
Naquele ambiente, haviam divagações; divagações sobre coisas diversas, sem deixar de lado aquilo que o homem não pode compreender ao certo. É sabido, que se os homens apenas falassem sobre o que compreendem, logo o mundo estaria em silencio.

Em instantes, o corredor do hospital se ilumina, não propriamente como uma chuva de cores, mas uma claridade denunciando um forte vigor na limpeza do ar. Se torna espantoso a velocidade de abertura de expressões nos olhares dos pacientes. Muitos estavam ali à tempos, amargurados pelo destino incerto, enfraquecidos pelas dores físicas e ociosos com os sentimentos que nem sequer sabem valer a pena transparecer ou até se devem mesmo sentir.
Parece não ser simples estar a espera do correio e, ao invés de uma boa correspondência da lembrança de ti por alguém, com sorte acompanhada de uma caixa de chocolates, receber uma carta da morte.

Os passos da Criatura, cada vez se tornando mais firmes, sombreiam mais e mais a limpeza e perfume do ambiente. Abrem-se também, personalizando os olhares, diversos sorrisos. É reconfortante um momento de tranquilidade após longas preocupações e pensamentos. A primeira reação de muitos, é a dança. Para os menos habilidosos, estranhos saltos e movimentos desritmados do corpo; já outros preferem não se arriscar, escolhendo os abraços. Os sentidos conferem largo poder sob os homens, sendo ou não totalmente enraizados nos instintos biológicos- podendo levar a loucuras e em péssimas hipóteses ao adiantamento da carta da morte- são no geral, a diversão que sempre se procura. Contudo, não são todos os festejadores agindo mesmo sem saber ou enxergar o porque, alguns, seguem ao que sempre foram, mesmo antes do inicio da fase do hospital; agem como um blasé, cuja denuncia revela o tédio ou a forma única em que conseguem ver o mundo, sempre o mais do mesmo, outros revelam o jeito de sempre manter as dúvidas na vitória sob os sentidos, prejudicando-os, é claro, mas favorecendo em diversas vezes, a conquista nas lutas contra as decepções. Mas para estas pessoas, a novidade da falta da dor física já é positiva, mesmo não havendo mudança nas aparências.
A maior claridade, oriunda da porta, chama a atenção da Criatura, instantaneamente guiando seus passos nessa direção. Formada de ingredientes reflexivos, oscilantes mas sobretudo fortes, ela conseguia perceber naquele ambiente do hospital, sua segurança. Mas os mistérios do desconhecido, a ansiedade por surpresas impulsionou sua decisão de continuar caminhando.
A variedade de formas, tamanhos, cores, funções no novo campo de visão, impressionava a Criatura. Pois é, mesmo os mais fortes pensamentos e ideologias perdem-se por algumas belezas.
O resultado poderia ser apenas uma inversão de conceitos. A medida em que a criatura absorvia os sentimentos positivos causados pelos deslumbres, radiava para fora de si, sua matéria pesada. Aquilo afetou cruelmente as pessoas. Evidentemente, muitas delas não sabiam o que era pensar, questionar, duvidar; ao contrário do corredor do Hospital, elas não precisavam se preocupar com a carta da morte, e, as vezes, os padrões pré estabelecidos são tantos que não havia como se desligar das ilusões a estas sempre impostas.

Nunca se vira o ar tão cinza, tão fechado. É claro que os pensamentos por si só não são algo ruim, mas na ocasião em questão, por representarem o desconhecido, pegou os cidadãos de surpresa. Foi o Terror. Arrancaram lhes à força a felicidade, a segurança; muitos ficaram fatigados, a espera da cartilha montada pelas propagandas coloridas. Mas não haviam mais cores.
As grandes corporações perceberam que precisavam fazer algo. Tudo se encontrava morto, não havia como denominá-los de seres humanos, portanto estavam correndo o risco de chegarem elas próprias a um fim. Acabou-se recorrendo ao governo, e por debaixo dos paninhos agora sem cores, fora prometido as mais novas artes, inimagináveis, pagadas é claro, quando ocorresse o retorno ao que comumente se conhecia.
O governo tentou conscientizá-los. Contudo, ninguém nunca ouvia o governo, e evidentemente, consciência nenhuma surge assim de fora. Então o governo decretou uma lei proibindo a tristeza. Mas, a falta de domínio nas reflexões só podia levar a ela, ao caos. Nas ruas, as pessoas passaram a chutar os carros, destruir o comércio, incendiar os bancos. Pois é, tristeza sem controle pode acabar levando a raiva.
Parece que beneficiados mesmo, foram apenas os planos funerários, tiveram um exímio crescimento, nunca antes registrado, ao contrário dos bancos, evidentemente afundando cada vez mais na lama da crise. O resultado representou o auxilio recorrido junto a Igreja. Esta inverteu seus conceitos. Outrora, já havia feito isso, isto é, por deveras vezes. É sabido que tentou explicar o que era o bem e o mau. Começou com Deus, que criou o bem, mas era um ser perfeito e não pode ter sido o criador do mau. Então Deus criou o bem e um anjo decaiu e por si criou o mau. Mas, não, não, sendo o anjo o criador do mau, na lógica, por ter sido criado por Deus, remete a este a culpa da criação do mau. Então, se volta novamente. Define-se que o mau não existe. Existe o bem e a ausência dele; sendo pois, a base do pensamento ocidental cristão. O tal do Deus existe, não se confirma em provas, mas se não existe a partir do que subtende-se por ele, existe a partir da crença que as pessoas conferem a sua existência. Isso gerava medo. Alguns seres instigados, acreditavam por segurança, mas ninguém poderia saber
ao certo. Fato é que, não havia mais o medo. Assim como não havia o juízo de valor entre o certo e o errado, o bem e o mau. Portanto, a maior vitória da Igreja refere-se a alguns fiéis em sua porta; mas estes já não podiam oferecer nada.
A Criatura continuou sua caminhada por longos anos. Parece sempre haver tempo pra se encantar. Mas, sua essência era reflexiva, e em algum momento, passaria a utilizá-la. A Criatura percebeu que tudo aquilo era meio externo a si e propriamente não duradouro. A beleza nunca fora forte pra vencer o tempo. E, a Criatura sentiu o vazio. Fora atingida pela solidão.
Mantinha suas caminhadas, no peito, sempre o aperto cujas formas nunca permitem saber ao certo o que é.
Em mais um belo dia, agora chuvoso, porém com magnânimos orvalhos, a Criatura encontrou uma casinha, e dentro dela, um músico. Ele passava todos os seus dias na companhia dos livros e de seu gato, além de seus instrumentos, é claro. Parecia em paz. Sabia sentir afeição, dar carinho, sabia usar sua criatividade, sabia ser livre, pensar e fazer por si. Não fora afetado pelo ar cinza, permanecia com o que lhe era o bastante e assim, a Criatura pode vê-lo.

Naquele instante, e a partir de então, a Criatura desejou ser uma mulher. Queria seduzi-lo, sentir o que imaginava ser perigosamente humano, porém, ser de todo, algo como vida. A Criatura sabia que não poderia abandonar o que era, por isso sentia dor. O mundo voltara ao normal. A felicidade da ignorância, a ignorância da felicidade. Mas não se contava com uma coisa. Intermitência...
E, de repente, a leveza constante do músico fora interrompida. Havia deparado com uma bela mulher, do tipo com um corpo magro mas de curvas marcantes e um par de olhos esverdeados que brilharam concomitante ao sorriso que ela lhe transmitiu. Segue se sentimentos impossíveis de serem explicados.
Um par de mão dadas, e um novo caminhar, foi o ocorrido. A partir daquele dia, não se sabe o que as pessoas a fora sentiam. Eram donas de sua própria vida.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Paz na Palestina...

Chegou atrasada, adentrou a sala e logo visualizou a roda de dança. Ela permaneceu ali, quieta, os olhos se movendo de um lado a outro da roda; observava o Mohamad conduzindo os no centro do circulo.
Sem que percebesse, a ciranda terminou. Ela foi cumprimentar as pessoas, passou a fazer parte do evento. Algumas palavras foram ditas. A mídia, inocenta Israel e julga os Hamas. Israel não tem motivos para ocupar o território Palestino, os judeus eram considerados afastados de Jerusalém. A mídia, as artes envolvem uma inocência aos judeus, atribuem todos os males às dores sofridas pelo Holocausto nazista, contudo, desviam o olhar sobre os fatos atuais. Se havia reivindicação de território, porque não buscá-los em cobrança com os alemães? Os Palestinos não haviam declarado guerra a ninguém, e não devem ficar isolados quando evidentemente decorrem sérios genocídios. Genocídios estes, que obrigam famílias a abandonarem seus territórios e refugiarem-se em países cuja cultura é totalmente diferente da sua, resultado é claro, uma outra forma de massacre, o ideológico. A Onu acaba por disponibilizar a estes, lugares estratégicos. Mogi das Cruzes é um deles. A cidade é pacífica, os palestinos se encontram em lugares afastados, não mantém um contato entre si, e encontram dificuldades de convívio com os próprios mogianos; sofrem por não conhecer o português e não ter completo domínio do inglês. A ONU lhes repassa uma quantia de 350,00 reais em média, variando de acordo com composição familiar, atividades, etc. Porém, estes palestinos encontram exímia dificuldades na obtenção de empregos, ou seja, desfrutam de baixa qualidade de vida. Os palestinos refugiados, encontram outras adversidades como problemas em atendimento médico; as mulheres palestinas não podem, por sua cultura, consultar-se em ginecologistas do sexo masculino, e quando não é o médico o homem em questão, enviam tradutores homens como acompanhantes. Há relatos de palestinos que foram enviados a asilos ou sanatórios. As histórias contadas precisam ser ouvidas.
Porém, em todos os momentos, a garota esteve ali, deteve alguns pensamentos, queria fazer algo de fato. O engraçado, é que, enquanto estava ali, refletindo, as pessoas passavam e lhe diziam: “Dance guria, Dance”...Ela não sabia dançar, mas não se incomodava de apenas assistir. Mas, um garoto puxou na para dança, era uma dessas pessoas extremamente carismáticas. Divertido, se ofereceu para apertar nela o botão de ligar. Ajudou-a no mexer dos passos. Em instantes, a garota estava ali, brincando e dançando. Até que todos ergueram os braços e começaram a gritar: “ Paz na Palestina”...Em seus pensamentos, ela sabia que aquilo era algo mínimo; mas o grito de um garoto chamou lhe a atenção, virou para observá-lo, deveria ter uns cinco anos, erguia os braços e gritava em um português perdido de um sotaque árabe. Ele olhou para ela e sorriu; ela memorizou este sorriso, de esperança infantil. A garota não se importou com o clichê e gritou “Paz na Palestina!!!”

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Espelhos

Sempre possuiu antipatia aos espelhos. Inicialmente achava estranho pensar neles como uma parte da casa. Mas, em realidade era como imaginava todas as coisas. Acreditava que todos os objetos, pessoas que provinham de um espaço, estavam ali por um sentido. Não seria diferente com os espelhos.
Na infância, costumava imaginar os brinquedos se levantando a noite, para o esboço de suas vidas, em uma dimensão paralela é claro. Os espelhos representariam pois, o portal. Quando ouvia estórias de anjos, também imaginava a aparição destes oriunda deste portal, já que não lhe explicavam como algo de matéria diferente poderia introduzir-se nesse mundo.
De certa forma, detinha medo dos espelhos. Uma vez, ainda pequena, fez uma travessura e quebrou um. As pessoas alertaram lhe que como consequência, passaria por um período de sete anos de azar. A garota passou a atribuir a culpa de todos os seus empecilhos ao objeto cintilante, e a odiá-lo ainda mais. Como inimigo na batalha, este detinha uma forte arma, passou a exercer a tarefa mais intrigante em sua vida; mostrava-a que ela estava crescendo.
A garota ainda encontrava tempo para pensar nos espelhos, afinal, costumava pensar demais em tudo .Certa vez, posicionou um espelho na frente do outro, desejando desvendar os segredos que poderiam existir, porém, se assustou com a imensidão da imagem criada, e sentiu-se pequena e insignificante. Evidentemente, a garota não desistiu. Em outra tentativa, colocou uma madeira maior do que si, com abertura na altura dos olhos, objetivando olhar para o objeto e não encontrar sua imagem. O resultado lhe pareceu o cenário de um espetáculo sem personagens, mas o espelho permaneceu intacto, inviolável.
Com o tempo, se esqueceu do espelho, esqueceu-se de muitas coisas. O contato com eles fora mantido. Mas, a garota não pensava mais nos mistérios destes, e sim nos seus próprios.
Intrigava-se com sua imagem, não conseguia compreender suas formas; estas pareciam tão sem sentido. Costumava não simpatizar muito com suas feições, mas desistiu de pensar a respeito. O que mais lhe inquietava, era o fato de sentir-se tão viva por dentro, mas encontrar dificuldades e não saber mostrar-se totalmente por fora. No entanto, isso resultou em abertura aos aprendizados.
A garota conheceu pessoas, pessoas com sonhos, medos semelhantes, ou quando não eram semelhantes sabia haver a crença no desejo do outro. Descobriu no mundo, o valor da amizade, descobriu uma forma diferente e positiva de espelho, e a este, sempre mantém a simpátia.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Consciência

Cientistas e neurociêntistas alegam ser a memoria de um passado, a expectativa de um futuro, e a compreenção de possuir esta noção, o diferencial entre o cérebro do homem e o das demais espécies. Anteriormente, se acreditava, baseados em teoria de Crick e correntes como darwinismo social e sociobiologia, a ideia de determinação da mente pela genética, ou seja, os aspectos mais importantes da mente estariam codificados no DNA, e por meio destes, as capacidades inatas, as tendências e os comportamentos individuais, incluindo inteligência, preferências sexuais e preconceitos raciais. Contudo, novas teorias sobretudo com Edelman, propõem o funcionamento do sistema como oriundo de seleção. O darwinismo neural sustenta o posicionamento das ciências humanas, pois, a formação de circuitos entre os neurônios, e as ligações entre percepções, sentimentos, pensamentos e comportamento é determinada pela experiência e não pelos traços herdados geneticamente dos pais. Esta visão de consciência é comparável a concepção da natureza humana por Karl Marx; em geral, a necessidade e impulsos de se viver em comunidade e o controle do ambiente, ou seja o fato da criação dos próprios meios de produção, modificada e transformada em cada época histórica pelas circunstancias. Deriva-se desta natureza, o movimento da historia e os antagonismos sociais. E, neste aspecto que Edelman coloca que, se fosse inteiramente determinada pela genética, não haveria como promover mudanças qualitativas na espécie humana. E, é exatamente neste aspecto o atraente de minha atenção, sobretudo focado no cientifico. Edelman, e diversos neurociêntistas idealizam construir uma verdadeira consciência artificial. Entretanto, o projeto enfoca-se em maquinas evolucionarias, mais parecidas com os robôs da ficção cientifica do que com os atualmente existentes nas fábricas.
Ao meu modo, colocaria como forma de consciência artificial o desenrolar da trama cinematográfica o Show de Thruman. A vida do protagonista é completa e inviolavelmente criada e modelada, portanto a consciência artificial, seria toda vivência segundo padrões pré estabelecidos, segundos rotinas, conceitos e realizações já impostas aos seres. Se os estados de consciência são subjetivos e irredutíveis a qualquer definição ou padrão, podemos considerar a anulação do caráter individual - diferente, capaz de obtenção e produção de objetivos, vontades, ações e noção de seu meio - de cada ser como consciência artificial.
Fato instigante, é a vontade da criação da consciência artificial, a imagem e semelhança das ficções. Nas abordagens cinematográficas como A.I, Inteligência artificial e o Homem Bi Centenário, o robô ou consciência artificial passou por um processo evolutivo de criação, apresentando espetacular adaptação tecnologica, representando uma maior facilidade de vivência com o meio. Porém, em ambos os filmes, o personagem principal detém o desejo de se tornar humano e usufruir de sentimentos, referente único ao subjetivo e individual do ser. Haveria pois, um paradoxo? Ou denota a lição promovida pelo Mágico de Oz, o qual, já se é tudo aquilo cuja pretensão é de ser, bastando apenas olhar com diferentes olhos?
A tecnologia continua se desenvolvendo, criando novas facilidades e novas necessidades, e, o homem se perde em padrões e desigualdades. Pois bem, permanece a questão das consciências artificiais, da atuação de cada personagem em sua própria cena e no espetáculo como um todo. E, aos neurociêntistas, aos idealistas, permanece a questão ou ideia de ser ainda possível a melhora do homem?

Pensamentos

Sentia-se uma boba por ainda pensar tais coisas. O chapéu, era a imagem permanente. Um chapéu preto, revestido sobre o cabelo preto, ocasionalmente movidos por braços finos e longos; era tudo que conseguia visualizar. Sabia que por trás disso tudo, havia desenhos dançantes. Costumava pensar que poderiam ser os desenhos, as luzes coloridas os responsáveis pelo encanto.
Aliás, em seus pensamentos havia a dúvida sobre o que move as pessoas. Havia frequentado shows, cerimônias religiosas, eventos políticos; pode presenciar muitas pessoas em torno de uma causa comum. É claro, não fazia intencionalmente, mas por vezes, pequena, ao meio de tantas pessoas, desligava os seus sentidos e passava a os observar. Visualizava a cena como engraçada, bonita e até mesmo mágica: diversas pessoas pulando, ouvindo e decifrando uma melodia decodificada por exímios músicos. Mas, adorava quando ela própria vivia isso. Em cerimônias religiosas, se imprecionava com todos fechando os olhos ao mesmo tempo, ao som de uma única palavra. Neste aspecto, não havia certeza, não compreendia totalmente a fé, mas entendia que funcionava como um auxílio à muitas pessoas. Era preocupante, apenas quando decorria o contrário. Sabia que acreditava em algo, amorfo, antagônico, mas belo e por vezes, reconfortante. Já os ventos políticos soavam como um mistério maior, existem pessoas insatisfeitas, reivindicando melhorias, porém não há necessidade de encaminhá-las de forma vertical, as burocracias e hierarquias demonstram a história, tendem a cair no oportunismo e ditaduras. Pensava ser preciso a coerência, saber que a desigualdade existe, compreender que em sua maioria, os fatos são socialmente construídos. Odiava a passividade.
Mas enfim, o que movimenta as pessoas? Aparências, interesses o dinheiro? O dinheiro movimenta as pessoas ou as pessoas movimentam o dinheiro? A crise externa mundial é fruto do capital especulativo, e, propriamente do esgotamento de recursos. Com a história não sendo escrita de forma racional, na existência no cotidiano, as pessoas são movidas por semelhanças com outras, propósitos ou sonhos coloridos?
Era a hora de falar sobre seus sonhos; isso assustava é claro, sabia que por vezes não poderia controlá-los, e, sobretudo aquele conceito de que deveria empenhar-se por eles mantia-se ali, em algum canto do peito ou consciência. O que a colocava em choque, era saber não poder parar o tempo, e, certamente, não iria querer passar por cima de ninguém. De fato tinha esperança, mesmo sem ter a certeza de ser algo bom; diziam lhes ser bonito, mas por vezes ria por não saber se esperança é hipocrisia. Frase dita por um grande músico.
Contudo, não poderia mudar quem era. Lembrava-se de leituras cuja afirmação dizia a possibilidade de se reinventar. Mas como seria isso? Definitivamente, anular totalmente a espontaneidade não estava em seus planos.
Pois bem, “a vida dos outros”; poderia ser isso. Era incrivelmente fascinante como acreditava no sonho do outro. A garota pensava ser o mais envolvente as idiossincrasias dos seres que guardava em sua memoria. Havia uma menina incomodada com barulhos humanos, uma moça com exuberância de onomatopeias, um rapaz que encostava seu olho no alheio e dizia pegá-lo, um moço cuja forma de dormir se assemelhava a um cachorro.
Mas, e os seus sonhos coloridos? E sob descer as cataratas do Iguaçu com uma capa de chuva amarela? Olhou para os seus próprios olhos; aparentava ser forte...mas por vezes enterrou sonhos na areia, por vezes sufocava-se dentro de um trem.
Sentia-se uma boba por ainda acreditar em mudanças. Sabia possuir memória fotográfica, havia registrado coisas diversas. Sabia que existiriam outras à guardar. Visualizava o chapéu. Estaria voando, livre? Sabia que a imagem poderia passar. Saberia ser o que gostaria? Tocaria ainda, os braços longos? Ou o chapéu retornaria ao cabide?
Sentia-se com sono, resolveu dormir

Hipnotizante

O som estonteante de seu sorriso prendeu me em devaneios
Um labirinto sem fim
Sem respostas, sem sentido...
E meu mundo, mais uma vez pôs-se a girar.
Seus olhos, viravam-se mirando o horizonte
Como se me jogassem uma corda para fugir.

Mas a liberdade?
Está veio apenas com seus lábios...