Entre,sinta-se à vontade. Não repare as estranhezas,as belezas...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Acordar

Os olhos de Luciana se abrem, relutantes, piscam algumas vezes, se desembaçam. Acordar é o momento de Lucidez intensa. Ela se situa, saber onde está aflora as sensações mais recentes, e sempre procura o relógio, mesmo quando as horas não importam. Luciana até tenta ignorar a lucidez, quer dormir um pouco mais, desesperadamente relaxar, mas em sua mente, a inquietação é evidente, e ela se torna espectadora daqueles pensamentos que parecem ter vida própria. Ela, então, tenta driblá-los pensando sobre o que havia sonhado, mas logo o anseio por um possível significado a recoloca na platéia. Mesmo sem vontade, ela acaba por levantar.

Luciana é solitária. Mas Luciana esconde um segredo. Já foi Carolina. Carol era misteriosa e valente. Luciana é descrente.

Luciana toma o café e diferente do de Carol, o gosto é amargo. Ela detalhadamente arruma a sua bolsa. Ela gosta de saber o que poderá precisar, e certamente, levará muito mais do que o necessário, o ato lhe confere uma sensação de independência. Carol nunca foi tão organizada, é impulsiva, e sempre teve medo de que as coisas lhe trouxessem um vazio.

Por ultimo, Luciana coloca na bolsa sua máquina fotográfica e seu mp3 de grande valor. Carol valorizava mais o fone.

Carol talvez gostasse de ir a onde o vento for, mas Luciana teve de se acostumar a caminhar até o metrô. Por vezes, as garotas entram em conflito, porém, os valores de Luciana acabam por paralisar a Carol. O silêncio é sempre o ponto de encontro de ambas.

Carol costumava pensar que o medo parava na infância. Luciana sabe que não. Como uma irmã mais velha, que almeja proteger a menor indefesa, Luciana ensinou a Carolina a ignorar. Ignorar o amor, contornar os desafios.

Carol queria ser cineasta, achava mágico, que o homem pudesse ter se frustrado com a imagem estagnada na fotografia, e a desejasse vê-la em movimento. Ela pensa o cinema como a capacidade de tornar coletiva a imaginação. Ela instigava-se com os mistérios da imaginação. Luciana tornou-se fotografa. A possibilidade de visualizar algo com mais precisão, em mais ângulos, detalhes, lhe transmitem sentimentos de segurança e compreensão. E para ela, assim, a imagem se torna resistente ao tempo. Ao contrário de Carol, a ansiosa, Luciana espera o tempo passar e segue os seus dias, mesmo sem saber o porquê.

Já no metrô, Luciana caminha devagar. Não gosta de ser esbarrada, parece ter seu próprio mundo. Ela aumenta o volume do seu mp3. A música alta, a aliena, funciona como um escudeiro para isolá-la e protegê-la de todas aquelas pessoas, mesmo que, mais uma vez, ela não saiba o porquê. Já Carol, ali ao fundo, adoraria descobrir os mistérios da humanidade. Talvez encontrar alguém em especial, e viver as coisas mais belas que somente ela consegue imaginar.

A existência dessas duas garotas não permite compreender se as pessoas realmente mudam, ou simplesmente se adaptam. O tesouro de uma é a essência e o de outra, a mudança. O mais poderoso entre estes, só existe para cada uma delas. Enquanto isso, Carol e Luciana permanecem ali, disputando aquela coisa que se torna um motivo maior, algo que as façam sorrir e dormir tranquilamente, para talvez, algum dia, apenas uma acordar.

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