Entre,sinta-se à vontade. Não repare as estranhezas,as belezas...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Os Quadrinhos (Parte 1)

Quadrinhos. Ou mesmo quadradinhos, como costumava observar na infância. Quando era uma pequena criatura, visualizava os quadrinhos ilustrados e os compreendia como pequenos universos paralelos, cada qual moldado nos seus quatro lados. Observava os diversos e diferentes mundos, me envolvia em suas formas e nos seus enredos, e acreditava que estavam sempre protegidos pelos contornos daquela forma geométrica, e caso houvesse necessidade de se expandir, bastaria acrescentar um novo quadradinho, repleto de espaço e possibilidades.

A “Arte Sequencial” na forma de História em Quadrinhos, ainda é alvo de inúmeros preconceitos. Pode-se dizer, por se constituir da simbiose entre palavras e imagens, que a percepção dos quadrinhos é uma leitura num sentido mais amplo do comumente aplicado ao termo, sobretudo por serem diferentes os processos de transição e aceitação destas simbologias, além de chegarem ao receptor por mecanismos psicológicos também análogos.
Deste modo, esboçar o inicio da interação da escrita e o auxílio de figuras pode ser falho. Sem dúvidas, na sociedade contemporânea, aceita-se que a imagem completa um texto e vice-versa, além da relação entre estes deixar a comunicação mais atrativa e dinâmica. Contudo, a sociedade veio modificando suas formas de comunicação, correspondendo aos fatores determinantes nas épocas, nas palavras do famoso teórico de mídia, Mcluhan, “a modelagem social se refere muito mais a natureza do meio atravez do qual os homens se comunicam, do que pelo conteúdo da comunicação”.
Para não citar as culturas da antiguidade, cuja utilização dos sinais corresponde a uma necessidade mais distante, sabe-se ter existido no século XVI, pinturas que traziam consigo legendas. O fato não teve a popularização devido a arte ser vinculada apenas aos reis, a elite, sendo que estes financiadores, em sua maioria não sabiam ler. Assim, toda e qualquer expressão deveria estar inserida na figura. Já em meados do século XIX, no pós era das revoluções, francesa e industrial, passa haver circulação da cultura, movida pelo intuito racionalista, bem como a mudança do entreterimento aos nobres para o conhecimento do homem pelo mesmo. O terceiro estado emergente com seus ideais libertadores populariza o folhetim e o jornal como propagadores das mudanças. E são nestes meios, que se solidificam as raízes da palavra e a ilustração, iniciando-se com a propaganda, posteriormente os quadrinhos e por fim a fotografia.

A ideia, é utilizar o singelo espaço, para fugir das criticas a esta arte, e mostrar um pouco de sua história e seus infinitos significados. Infinitos pois muitas Hqs além de contar uma estória, nos envolvem em psicologia, história, política, etc. Outras criam técnicas de humor ou suspense, trejeitos, ações típicas que se tornam atemporal. A meu ver, um aspecto essencial é a imaginação. E, não é possível analisar um estudo coerente da mesma. O duelo entre biológico e social, além da análise daquelas pequenas diferenças que perduram nos seres, tida como personalidade são por vezes relativos e muitas vezes incerto. Para os historiadores, os indivíduos são o reflexo e a interação de sua época. Não existe um indivíduo a frente de seu tempo, quando decorrem diferenças, elas são fruto de hábitos de uma conhecida época anterior ou devido a compreensão abrangente da sua própria, podendo levá-la ao choque e resultar em mudança. Mesmo aceitando este conceito, o campo da imaginação não é plausível de mapeamento. A ideia portanto, não é ignorar ou julgar a imaginação, apenas esboçar dentro das grandes possibilidades, os significados, inspirações e diálogos que os cartunistas expõem.

Sem mais delongas, os quadrinhos. A definição das primeiras histórias em quadrinhos também é controversa. Para Will Eisner (The Spirit), ela deve-se corresponder a uma forma de arte sequencial, ou seja, acontecimentos descritivos e ilustrados que detém sequencia. A maior aceitação do nascimento dos quadrinhos, corresponde ao The Yellow Kid do artista norte-americano Richard Outcault, publicado no New York World, em 1895, por ser o pioneiro a utilizar o “balão” no quadrinho e contar com um personagem fixo. Contudo, se é válida a definição de Eisner, outros artistas que utilizam a narração em suas obras podem ser considerados os precursores, mesmo que a narração se mostrasse como uma legenda e não estivesse esboçada dentro do quadradinho. Desse modo pode-se citar o suíço Rudolph Topffer, o alemão Wilhelm Busch com seus travessos personagens Max e Moritz (Juca e Chico traduzidos ao português por Olavo Bilac) e o italiano naturalizado brasileiro, Ângelo Agostini.

Topffer em seus quadrinhos aborda uma influência nas pinturas de William Hogarth, cuja série “The Harlot’s Progress” de 1731/32 mostrava a história de uma mulher que devido as dificuldades de adaptação a Londres, se torna uma prostituta. Topffer dedicou-se a literatura. No entanto, estabeleceu em alguns de seus trabalhos, o texto auxiliado pela imagem. Infelizmente os dados sob Topffer e suas histórias são escassos. Em 1842, foi publicado nos Estados Unidos o The Adventures of Mr. Obadiah Oldbuck, obra tida como importante no estabelecimento da simbiose imagem e texto.








Os quadrinhos de Ângelo Agostini são objetos de estudo de escravidão para alguns historiadores da época. No desenvolver do período suas ilustrações foram importante instrumento de propaganda abolicionista. No entanto, seu primeiro personagem fixo surgiu no “Vida Fluminense” em 1869, com o título “As Aventuras de Nhô Quim, ou impressões de uma viagem à Corte” cuja narração aborda as aventuras de um caipira na cidade grande. O autor era dono de uma forte qualidade sátira. A história é desenvolvida em uma série de situações hilariantes, e se constitui mais por variações em torno de um mesmo tema que um enredo contínuo com começo, meio e fim, mesmo havendo entre as publicações, um espaço para pressupor sua continuidade no número seguinte do jornal. Agostini utiliza técnicas que tempos depois foi incorporada nas historias em quadrinhos, como a sucessão de vários quadrinhos utilizando um mesmo cenário de fundo. “As Aventuras de Zé Caipora seguem as mesmas técnicas, com poucas diferenças nos traços do personagem e “diálogo” social que seu primeiro título. Foi publicada de 1883 à 1886 entre as revistas “Revista Ilustrada”, “Dom Quixote” e o periódico “O Malho”.

Nhô Quim: na imagem acima, o caipira atrapalhado com o espelho, nesta nota-se a interação do personagem branco e do negro.


O Menino Amarelo, não foi a principio assim nomeado por Outcault. Down Hogan’s Alley era o título da série publicada no jornal americano New York World, retratando a vida dos imigrantes no cortiço de New York. Um garoto chinês, sempre vestindo uma curiosa camisola amarela, ganhou destaque e acabou recebendo seu batismo pelo público. O autor também se utilizava de uma forte sátira, e suas técnicas o consagraram como pioneiro sobretudo por além do balão, a inserção de onomatopéias e diversificação de linguagens e mensagens, pois o menino trazia uma frase em seu pijama. The Yellow Kid detém como marco a relação que os quadrinhos vivenciaram em seu ínicio com o jornal. A proximidade era exacerbada de modo que as criticas dirigidas ao personagem, a sua diferente realidade e linguagem vulgar, foram transmitidas a todo jornal, e imprensa amarela passa a ser sinônimo de mídia sensacionalista.
O outro personagem do autor, Buster Brown, Chiquinho no Brasil obteve maior sucesso. O humor permanecia, contudo o cenário era distinto, sendo o menino travesso parte de uma família rica.





Clique nas imagens para ampliá-las.

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. m artigo muito bem escrito, com um ótimo trabalho de pesquisa. Como ele toca em temas interessantes, como o preconceito que os quadrinhos geralmente sofrem, será interessante quando você chegar nos anos 80 e consequentemente a Frank Miller e invasão britânica ocorrida naquela década, que na minha opinião reafirmou o fato de que se pode ter uma boa historia lendo esse tipo de mídia.

    ResponderExcluir
  3. Ótimo o texto, incrível como ainda há o preconceito associando quadrinhos à "coisa de criança". Podem muito bem ser obras bem profundas e adultas, pura arte gráfica e literatura em conjunção perfeita!

    ResponderExcluir
  4. Caramba vc pesquisou mesmo pra fazer esse texto hem oO

    ResponderExcluir
  5. Quadrinhos? Não tinha nd melhor pra falar não?
    Vc sabe q eu odeio esse assunto!
    ahsudhusadhusahduashu

    Já q a gente nunk consegue marcar nd agora vou te seguir aki, pelo menos um contato virtual acontecerá!
    rsrs

    ResponderExcluir
  6. Oi Nah! Muito bem escrito, mesmo! E... quadrinhos??? Sou viciado! Will Eisner, Lourenço Mutarelli, Neil Gaiman, Milo Manara, Art Spiegelman, Alan Moore, Guido Crepax, Quino... Devoro todos! Sempre deixo uma margem de 10 quadrinhos por ler me esperando na estante!!!

    Bj!

    ResponderExcluir