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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Espelhos

Sempre possuiu antipatia aos espelhos. Inicialmente achava estranho pensar neles como uma parte da casa. Mas, em realidade era como imaginava todas as coisas. Acreditava que todos os objetos, pessoas que provinham de um espaço, estavam ali por um sentido. Não seria diferente com os espelhos.
Na infância, costumava imaginar os brinquedos se levantando a noite, para o esboço de suas vidas, em uma dimensão paralela é claro. Os espelhos representariam pois, o portal. Quando ouvia estórias de anjos, também imaginava a aparição destes oriunda deste portal, já que não lhe explicavam como algo de matéria diferente poderia introduzir-se nesse mundo.
De certa forma, detinha medo dos espelhos. Uma vez, ainda pequena, fez uma travessura e quebrou um. As pessoas alertaram lhe que como consequência, passaria por um período de sete anos de azar. A garota passou a atribuir a culpa de todos os seus empecilhos ao objeto cintilante, e a odiá-lo ainda mais. Como inimigo na batalha, este detinha uma forte arma, passou a exercer a tarefa mais intrigante em sua vida; mostrava-a que ela estava crescendo.
A garota ainda encontrava tempo para pensar nos espelhos, afinal, costumava pensar demais em tudo .Certa vez, posicionou um espelho na frente do outro, desejando desvendar os segredos que poderiam existir, porém, se assustou com a imensidão da imagem criada, e sentiu-se pequena e insignificante. Evidentemente, a garota não desistiu. Em outra tentativa, colocou uma madeira maior do que si, com abertura na altura dos olhos, objetivando olhar para o objeto e não encontrar sua imagem. O resultado lhe pareceu o cenário de um espetáculo sem personagens, mas o espelho permaneceu intacto, inviolável.
Com o tempo, se esqueceu do espelho, esqueceu-se de muitas coisas. O contato com eles fora mantido. Mas, a garota não pensava mais nos mistérios destes, e sim nos seus próprios.
Intrigava-se com sua imagem, não conseguia compreender suas formas; estas pareciam tão sem sentido. Costumava não simpatizar muito com suas feições, mas desistiu de pensar a respeito. O que mais lhe inquietava, era o fato de sentir-se tão viva por dentro, mas encontrar dificuldades e não saber mostrar-se totalmente por fora. No entanto, isso resultou em abertura aos aprendizados.
A garota conheceu pessoas, pessoas com sonhos, medos semelhantes, ou quando não eram semelhantes sabia haver a crença no desejo do outro. Descobriu no mundo, o valor da amizade, descobriu uma forma diferente e positiva de espelho, e a este, sempre mantém a simpátia.

7 comentários:

  1. da primeira (eu-você) à terceira pessoa (ela, a garota)? espelhos sempre estiveram em meus temas... que bom que vc gostou dos poemas... agora, me diz: pseudo-escritora? como é que é isso?... e você? à primeira vista: bertolucci, chan-wook park (old boy)... fascinante!

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  2. gostei muito dos poemas, e você, gostou dos textos? espelhos são um grande mistério, seja no sentido literal, seja nas influencias ou na forma como nos vemos...te digo pseudo escritora pq não é nada que considere mto bom, ainda ha insegurança rs...fascinante é? e seus olhares? o que vêm?

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  3. gostei, sim... o que veêm? veêm que vc está no caminho, não saia dele.

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  4. "Porque agora vemos por espelho, em enigma, mas então veremos face a face: agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido..." Um grande tema, metáfora, enigma, "essência do ser" possivelmente representada por um objeto intrigante...vale dizer, explorado densa e delicadamente bem, conduzindo o leitor à reflexão.

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  5. vc escreve bem... muito legal o desenrolar e o propósito para o qual vc usou o espelho; depois se vc quiser te mostro algumas coisas minhas!!!

    eder

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  6. Como sempre, tua sensibilidade poética me encanta. Um abraço do teu amigo gaúcho!

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  7. Uau, tenho uma prima escritora a qual não conhecia, mas lembro perfeitamente do incidente com o espelho. Que bom que esses 7 anos se passaram rápido!

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