Entre,sinta-se à vontade. Não repare as estranhezas,as belezas...

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Pensamentos

Sentia-se uma boba por ainda pensar tais coisas. O chapéu, era a imagem permanente. Um chapéu preto, revestido sobre o cabelo preto, ocasionalmente movidos por braços finos e longos; era tudo que conseguia visualizar. Sabia que por trás disso tudo, havia desenhos dançantes. Costumava pensar que poderiam ser os desenhos, as luzes coloridas os responsáveis pelo encanto.
Aliás, em seus pensamentos havia a dúvida sobre o que move as pessoas. Havia frequentado shows, cerimônias religiosas, eventos políticos; pode presenciar muitas pessoas em torno de uma causa comum. É claro, não fazia intencionalmente, mas por vezes, pequena, ao meio de tantas pessoas, desligava os seus sentidos e passava a os observar. Visualizava a cena como engraçada, bonita e até mesmo mágica: diversas pessoas pulando, ouvindo e decifrando uma melodia decodificada por exímios músicos. Mas, adorava quando ela própria vivia isso. Em cerimônias religiosas, se imprecionava com todos fechando os olhos ao mesmo tempo, ao som de uma única palavra. Neste aspecto, não havia certeza, não compreendia totalmente a fé, mas entendia que funcionava como um auxílio à muitas pessoas. Era preocupante, apenas quando decorria o contrário. Sabia que acreditava em algo, amorfo, antagônico, mas belo e por vezes, reconfortante. Já os ventos políticos soavam como um mistério maior, existem pessoas insatisfeitas, reivindicando melhorias, porém não há necessidade de encaminhá-las de forma vertical, as burocracias e hierarquias demonstram a história, tendem a cair no oportunismo e ditaduras. Pensava ser preciso a coerência, saber que a desigualdade existe, compreender que em sua maioria, os fatos são socialmente construídos. Odiava a passividade.
Mas enfim, o que movimenta as pessoas? Aparências, interesses o dinheiro? O dinheiro movimenta as pessoas ou as pessoas movimentam o dinheiro? A crise externa mundial é fruto do capital especulativo, e, propriamente do esgotamento de recursos. Com a história não sendo escrita de forma racional, na existência no cotidiano, as pessoas são movidas por semelhanças com outras, propósitos ou sonhos coloridos?
Era a hora de falar sobre seus sonhos; isso assustava é claro, sabia que por vezes não poderia controlá-los, e, sobretudo aquele conceito de que deveria empenhar-se por eles mantia-se ali, em algum canto do peito ou consciência. O que a colocava em choque, era saber não poder parar o tempo, e, certamente, não iria querer passar por cima de ninguém. De fato tinha esperança, mesmo sem ter a certeza de ser algo bom; diziam lhes ser bonito, mas por vezes ria por não saber se esperança é hipocrisia. Frase dita por um grande músico.
Contudo, não poderia mudar quem era. Lembrava-se de leituras cuja afirmação dizia a possibilidade de se reinventar. Mas como seria isso? Definitivamente, anular totalmente a espontaneidade não estava em seus planos.
Pois bem, “a vida dos outros”; poderia ser isso. Era incrivelmente fascinante como acreditava no sonho do outro. A garota pensava ser o mais envolvente as idiossincrasias dos seres que guardava em sua memoria. Havia uma menina incomodada com barulhos humanos, uma moça com exuberância de onomatopeias, um rapaz que encostava seu olho no alheio e dizia pegá-lo, um moço cuja forma de dormir se assemelhava a um cachorro.
Mas, e os seus sonhos coloridos? E sob descer as cataratas do Iguaçu com uma capa de chuva amarela? Olhou para os seus próprios olhos; aparentava ser forte...mas por vezes enterrou sonhos na areia, por vezes sufocava-se dentro de um trem.
Sentia-se uma boba por ainda acreditar em mudanças. Sabia possuir memória fotográfica, havia registrado coisas diversas. Sabia que existiriam outras à guardar. Visualizava o chapéu. Estaria voando, livre? Sabia que a imagem poderia passar. Saberia ser o que gostaria? Tocaria ainda, os braços longos? Ou o chapéu retornaria ao cabide?
Sentia-se com sono, resolveu dormir

Nenhum comentário:

Postar um comentário